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Fernando Gomes

Homens e mulheres sentem o amor de maneiras diferentes

Fernando Gomes

12/06/2020 04h00

Homens se apaixonam mais que as mulheres e as diferenças culturais influenciam esse processo, mas estudos sociológicos demonstram que o amor romântico é universal e transcultural e por mais diferentes que sejam há um aspecto único em que todos concordam. Descubra!

Crédito: iStock

Só o ser humano pode usufruir da capacidade cerebral que lhe permite experimentar o amor: a emoção mais nova do ponto de vista evolutivo e talvez também a mais saborosa de todas. Tudo isso graças à camada mais recente e superficial do cérebro, conhecida como neocórtex, que nos faz mais capazes de sentir o amor e de perceber tudo o que ele tem de bom. Mas, esse sentimento sublime que faz muita gente perder o fôlego, não é sentido da mesma maneira por homens e mulheres. Isso talvez explique o porquê de muitos casais não darem tão certo como gostariam. Vamos entender.

Fisiologicamente, o cérebro do homem é maior e um pouco mais pesado que o da mulher, isso porque o corpo masculino é essencialmente maior. Essas diferenças não impactam as funções intelectuais globais, mas sim em funções específicas e podem garantir uma peça a mais no jogo da sedução e do amor.

Aos olhos dos homens, as silhuetas femininas em forma de ampulheta, por exemplo, com destaque para os quadris e os seios, chamam a atenção do cérebro masculino. Nessa leitura, o quadril largo indica que a mulher tem uma bacia apropriada para uma boa gestação, e os seios fartos sugerem que os filhos serão bem amamentados. Já os ombros largos e os braços fortes de um homem provocam no cérebro feminino o prejulgamento de que aquele indivíduo será capaz de protegê-la durante todo o processo gestacional.

Na arte da conquista, existem ainda outras iscas poderosas, como o timbre de voz e o conteúdo da conversa, que impactam principalmente as mulheres, que ainda são mais auditivas que visuais nesse contato inicial. Rapidamente, elas buscam elementos que demonstrem que o homem é capaz, que é ou pode ser bem-sucedido e, sobretudo, que irá mantê-la protegida.

O cérebro feminino, por sua vez, é mais sensível à audição. Dessa forma, a voz, a conversa e a comunicação verbal são muito importantes num primeiro encontro, por isso o cérebro masculino precisa ter o poder de impressionar com as palavras.

Um estudo realizado na Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, e publicado na revista Memory & Cognition mostrou que vozes masculinas mais graves, além de serem preferidas pelas mulheres na hora de escolher o parceiro, podem ter influência na memória feminina. Nesse estudo, vozes masculinas agudas e graves, reais e geradas por computador, foram associadas a diferentes objetos, e os resultados apontaram que as mulheres se lembraram mais dos objetos associados às vozes masculinas graves. Em outro estudo, realizado nos Estados Unidos, pesquisadores gravaram as vozes de 149 voluntários, homens e mulheres, e classificaram-nas em uma escala que ia de "nada atraente" até "muito atraente". No resultado, notou-se que as vozes consideradas mais atraentes eram de pessoas com características físicas que também faziam mais sucesso. Um trabalho científico espanhol mostrou que ocorre uma sincronia elétrica no cérebro instantes após vermos algo ou alguém que achamos bonito. Com essa mudança momentânea, que vem acompanhada de uma sensação agradável, nosso instinto defensivo em relação à aproximação daquela pessoa é desarmado. As amígdalas cerebrais silenciam suas atividades relacionadas a emoções como raiva e repulsa. Dessa forma, favorece-se um contato mais íntimo.

Mesmo em meio a tantas diferenças, há um aspecto em ambos os sexos concordam: importância do sexo no relacionamento, mas cada um ao seu modo. É o que mostrou uma ampla pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro feita no IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo.

Na mulher, a ocitocina melhora a lubrificação e as contrações vaginais durante o ato sexual, facilita o orgasmo, permitindo que seja atingido com mais rapidez e intensidade, possibilita orgasmos múltiplos, protege contra os cânceres de mama e de ovário, aumenta a sensualidade feminina e diminui a ansiedade. Já no homem, esse hormônio aumenta a sensibilidade do pênis ao contato sexual, a lubrificação da glande, a frequência de ereções e o número de espermatozoides ejaculados. Também pode aumentar de forma saudável o volume das glândulas sexuais acessórias, como a próstata, e provoca bem-estar após a relação sexual, deixando-o relaxado e sonolento.

Há ainda um ponto que nenhuma ciência ainda foi capaz de comprovar, mas todo ser humano já sentiu na pele e certamente qualquer sexo irá concordar: o amor vale a pena, sempre!

Neurodicas

  • Na primeira conversa, use a inteligência emocional e controle a ansiedade. Lembre-se de que a pessoa que está à sua frente também está na mesma situação;
  • Olhe sem provocar inibição, mas sinalize que tem interesse;
  • Arrume-se e use perfume. Isso ajuda a pode provocar associações agradáveis e despertar a memória emocional, visual e olfativa do parceiro (a);
  • Não tome decisões importantes durante a fase de encantamento;
  • Identifique e experimente todas as fases do amor;
  • Sorria sempre. O sorriso diz ao cérebro de outra pessoa que você está bem e aberto para uma aproximação, provocando bem-estar;
  • Faça elogios à pessoa amada e agradeça quando os receber;
  • A prática de atividades físicas pode aumentar a testosterona e melhorar a libido.
Referência:
Pinto FC. Neurociência do Amor. Editora Planeta, São Paulo, 2017.

Sobre o Autor

Fernando Gomes é neurocirurgião e neurocientista, graduado em medicina pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Concluiu Residência Médica em neurologia e neurocirurgia no HC (Hospital das Clínicas) da FMUSP e possui título de especialista em neurocirurgia pela SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia). É pós-graduado em neurocirurgia pediátrica pela World Federation of Neurosurgical Societies, doutor em neurotraumatologia experimental pela FMUSP e professor livre-docente pela disciplina de neurocirurgia da FMUSP. Autor de 8 livros ligados à medicina e ao comportamento humano, consultor e apresentador do quadro “E agora, doutor?” do programa “Aqui na Band” da Rede Bandeirantes de Televisão.

Sobre o Blog

Com temas ligados a medicina e a neurociência, esse espaço é dedicado a viajar pelo cérebro humano e desvendar os mistérios da mente. Com explicações simples e embasadas cientificamente, por aqui é possível passear pela maior e mais poderosa máquina que mora dentro da cabeça de todos os seres humanos. E, ao desvendar os aspectos físicos e comportamentais das habilidades, emoções e necessidades do comportamento humano fica mais fácil aplicar técnicas e novos hábitos para que rotina seja leve, saudável e prazerosa e turbinada em todos os aspectos.

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