Fernando Gomes http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br Com temas ligados a medicina e a neurociência, esse espaço é dedicado a viajar pelo cérebro humano e desvendar os mistérios da mente. Fri, 12 Jun 2020 07:00:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Homens e mulheres sentem o amor de maneiras diferentes http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/06/12/homens-e-mulheres-sentem-o-amor-de-maneiras-diferentes/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/06/12/homens-e-mulheres-sentem-o-amor-de-maneiras-diferentes/#respond Fri, 12 Jun 2020 07:00:07 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=284 Homens se apaixonam mais que as mulheres e as diferenças culturais influenciam esse processo, mas estudos sociológicos demonstram que o amor romântico é universal e transcultural e por mais diferentes que sejam há um aspecto único em que todos concordam. Descubra!

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Só o ser humano pode usufruir da capacidade cerebral que lhe permite experimentar o amor: a emoção mais nova do ponto de vista evolutivo e talvez também a mais saborosa de todas. Tudo isso graças à camada mais recente e superficial do cérebro, conhecida como neocórtex, que nos faz mais capazes de sentir o amor e de perceber tudo o que ele tem de bom. Mas, esse sentimento sublime que faz muita gente perder o fôlego, não é sentido da mesma maneira por homens e mulheres. Isso talvez explique o porquê de muitos casais não darem tão certo como gostariam. Vamos entender.

Fisiologicamente, o cérebro do homem é maior e um pouco mais pesado que o da mulher, isso porque o corpo masculino é essencialmente maior. Essas diferenças não impactam as funções intelectuais globais, mas sim em funções específicas e podem garantir uma peça a mais no jogo da sedução e do amor.

Aos olhos dos homens, as silhuetas femininas em forma de ampulheta, por exemplo, com destaque para os quadris e os seios, chamam a atenção do cérebro masculino. Nessa leitura, o quadril largo indica que a mulher tem uma bacia apropriada para uma boa gestação, e os seios fartos sugerem que os filhos serão bem amamentados. Já os ombros largos e os braços fortes de um homem provocam no cérebro feminino o prejulgamento de que aquele indivíduo será capaz de protegê-la durante todo o processo gestacional.

Na arte da conquista, existem ainda outras iscas poderosas, como o timbre de voz e o conteúdo da conversa, que impactam principalmente as mulheres, que ainda são mais auditivas que visuais nesse contato inicial. Rapidamente, elas buscam elementos que demonstrem que o homem é capaz, que é ou pode ser bem-sucedido e, sobretudo, que irá mantê-la protegida.

O cérebro feminino, por sua vez, é mais sensível à audição. Dessa forma, a voz, a conversa e a comunicação verbal são muito importantes num primeiro encontro, por isso o cérebro masculino precisa ter o poder de impressionar com as palavras.

Um estudo realizado na Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, e publicado na revista Memory & Cognition mostrou que vozes masculinas mais graves, além de serem preferidas pelas mulheres na hora de escolher o parceiro, podem ter influência na memória feminina. Nesse estudo, vozes masculinas agudas e graves, reais e geradas por computador, foram associadas a diferentes objetos, e os resultados apontaram que as mulheres se lembraram mais dos objetos associados às vozes masculinas graves. Em outro estudo, realizado nos Estados Unidos, pesquisadores gravaram as vozes de 149 voluntários, homens e mulheres, e classificaram-nas em uma escala que ia de “nada atraente” até “muito atraente”. No resultado, notou-se que as vozes consideradas mais atraentes eram de pessoas com características físicas que também faziam mais sucesso. Um trabalho científico espanhol mostrou que ocorre uma sincronia elétrica no cérebro instantes após vermos algo ou alguém que achamos bonito. Com essa mudança momentânea, que vem acompanhada de uma sensação agradável, nosso instinto defensivo em relação à aproximação daquela pessoa é desarmado. As amígdalas cerebrais silenciam suas atividades relacionadas a emoções como raiva e repulsa. Dessa forma, favorece-se um contato mais íntimo.

Mesmo em meio a tantas diferenças, há um aspecto em ambos os sexos concordam: importância do sexo no relacionamento, mas cada um ao seu modo. É o que mostrou uma ampla pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro feita no IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo.

Na mulher, a ocitocina melhora a lubrificação e as contrações vaginais durante o ato sexual, facilita o orgasmo, permitindo que seja atingido com mais rapidez e intensidade, possibilita orgasmos múltiplos, protege contra os cânceres de mama e de ovário, aumenta a sensualidade feminina e diminui a ansiedade. Já no homem, esse hormônio aumenta a sensibilidade do pênis ao contato sexual, a lubrificação da glande, a frequência de ereções e o número de espermatozoides ejaculados. Também pode aumentar de forma saudável o volume das glândulas sexuais acessórias, como a próstata, e provoca bem-estar após a relação sexual, deixando-o relaxado e sonolento.

Há ainda um ponto que nenhuma ciência ainda foi capaz de comprovar, mas todo ser humano já sentiu na pele e certamente qualquer sexo irá concordar: o amor vale a pena, sempre!

Neurodicas

  • Na primeira conversa, use a inteligência emocional e controle a ansiedade. Lembre-se de que a pessoa que está à sua frente também está na mesma situação;
  • Olhe sem provocar inibição, mas sinalize que tem interesse;
  • Arrume-se e use perfume. Isso ajuda a pode provocar associações agradáveis e despertar a memória emocional, visual e olfativa do parceiro (a);
  • Não tome decisões importantes durante a fase de encantamento;
  • Identifique e experimente todas as fases do amor;
  • Sorria sempre. O sorriso diz ao cérebro de outra pessoa que você está bem e aberto para uma aproximação, provocando bem-estar;
  • Faça elogios à pessoa amada e agradeça quando os receber;
  • A prática de atividades físicas pode aumentar a testosterona e melhorar a libido.
Referência:
Pinto FC. Neurociência do Amor. Editora Planeta, São Paulo, 2017.
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Hiperatividade e déficit de atenção aumentam com aulas online http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/sintomas-como-hiperatividade-e-deficit-de-atencao-aumentam-com-aulas-online/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/sintomas-como-hiperatividade-e-deficit-de-atencao-aumentam-com-aulas-online/#respond Fri, 05 Jun 2020 07:00:57 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=278 53 milhões de pessoas no mundo tiveram os estudos afetados pelo coronavírus, segundo dados da Unesco

 

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Assim como com qualquer pessoa, crianças e adolescentes também estão sendo fortemente afetadas pela turbulência de informações que o mundo online está exigindo na quarentena. Os pais precisam ter a atenção redobrada para trabalhar nos pequenos a paciência e a resiliência e ficar de olho no comportamento, que pode ser alterado e desencadear sintomas como a hiperatividade e déficit de atenção.

A falta de rotina causada pelo isolamento pode aumentar o que chamamos de comportamentos inadequados, ou seja, a agressividade, as birras, a impulsividade, a hiperatividade e o déficit de atenção. E sem o professor fisicamente à frente e longe do ambiente escolar, é comum que as crianças se distraiam mais facilmente –o que torna a concentração mais relapsa – ou se agitem pelo excesso de informações através das telas.

Sabemos que a hiperatividade acomete cerca de 3 a 5% entre 6 e 12 anos, mas 50% delas apresentam melhora do quadro na fase adulta. Por outro lado, a dificuldade em se concentrar e controlar impulsos pode estar “escondendo” certas características positivas, como: inteligência acima da média, talento criativo e desenvolvimento privilegiado do afeto e da intuição.

Para entender a diferença entre as duas e ficar atento aos sinais, eu explico melhor:

A hiperatividade é um estado excessivo de energia, que pode ser motora ou mental. Em época de aulas online, ela pode aparecer pelo excesso de informação por trás das telas que sobrecarregam todo o corpo, tanto físico quanto mental, e daí ele funciona como se estivesse trabalhando em demasia: aí está um hiperativo.

O tratamento adequado precisa começar pelo reconhecimento do problema, isso ajuda a tornar as características positivas ainda maiores do que as negativas já que o problema está relacionado basicamente com o funcionamento dos lobos frontais e dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e serotonina. Existem tratamentos neurológicos para esses casos que envolvem medidas pedagógicas, medicamento, neuropsicologia, psicopedagogia e claro, todo o apoio familiar.

Já as informações vindas por um mundo tão tecnológico podem também distrair facilmente a atenção e provocar sinais que trazem o déficit de atenção à tona, mas é importante diferenciar o distúrbio de uma simples distração. Para avaliar se uma criança está apenas demonstrando uma agitação natural diante de tantas novidades ou manifestando um transtorno, alguns sinais podem ajudar.

Os quadros de Distúrbio do Déficit de Atenção são ocasionados por uma disfunção neurológica, que afeta o funcionamento do córtex pré-frontal. Essa é a área do cérebro responsável pela atenção, organização, controle de impulsos e capacidade de expressar sentimentos, entre outras. Tal disfunção se dá, em parte, pela deficiência do neurotransmissor Dopamina.

Ao tentar focar excessivamente focar numa tarefa, ao invés de aumentar, a atividade do córtex pré-frontal da criança pode diminuir, piorando o quadro. Por isso, o diagnóstico deve ser feito de forma precisa, para que o tratamento correto seja iniciado o quanto antes. Esse diagnóstico é clínico, e deve ser obtido em consulta médica a partir dos primeiros sinais de mudanças de comportamento infantil que precisam ser observadas. São elas:

  • Dificuldade em ouvir os outros;
  • Incapacidade de terminar tarefas e concluir projetos;
  • Dificuldade em expressar sentimentos;
  • Sensação de tédio, desmotivação;
  • Dificuldade de ficar parado e/ou ficar sentado por longos períodos;
  • Falar excessivamente ou falar pouco;
  • Dificuldade em aguardar a vez e intromissão ou interrupção (em conversas alheias, por exemplo).

Neurodicas

  • Crie rotina: e, o mais importante: é essencial criar uma rotina diária organizando calendários, quadros de rotinas, determinar horários e ambientes diferentes da casa destinados aos estudos, para às telas, para as leituras e para as brincadeiras e o lazer;
  • Valorize o individual: se de um lado a falta de contato pode atrapalhar o desenvolvimento escolar, de outro, algumas medidas simples como encontrar um esporte prazeroso e de curta duração, com cerca de 30 minutos apenas, que possa ser feito sozinho, de preferência aqueles que trabalham a parte aeróbica, e que não tragam a competição como principal objetivo, ajudam muito;
  • Elogie e engrandeça uma ação concluída com sucesso: os pais têm grande influência sobre o sucesso no desenvolvimento dessas crianças, por isso que os aspectos positivos e os bons resultados, quando aparecerem de verdade, devem ser elogiados. Isso vale para uma tarefa bem-feita, um brinquedo bem montado ou uma brincadeira de uma charada acertada;
  • Cuidado com a punição excessiva e as críticas destrutivas: essas precisam ser evitadas, pois podem provocar o rancor, a mágoa e diminuir a autoestima.
Referência:
Cerrillo-Urbina AJ et al. The effects of physical exercise in children with attention deficit hyperactivity disorder: a systematic review and meta-analysis of randomized control trials. Child Care Health Dev. 2015;41(6):779‐788
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Como fica a linguagem não-verbal com as máscaras? Neurociência explica http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/29/como-fica-a-linguagem-nao-verbal-com-as-mascaras-neurociencia-explica/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/29/como-fica-a-linguagem-nao-verbal-com-as-mascaras-neurociencia-explica/#respond Fri, 29 May 2020 07:00:58 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=270 Com dois terços do rosto cobertos pela máscara, o grande poder expressivo do olhar se tornou a principal forma de comunicação e de transparecer emoções

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Muito mais do que uma complexa rede de nervos e músculos que intervêm no movimento das sobrancelhas, no piscar dos olhos e do movimento das têmporas, o olhar continua sendo um dos poucos recursos de expressão disponíveis em tempos de máscaras. E pode ter certeza de que é sim eficiente.

Se de um lado, com parte do rosto coberto conseguimos evitar a transmissão do novo coronavírus, de outro, essa ação modifica a maneira de disseminarmos as nossas emoções. Mas, o cérebro é rápido e sabe direitinho elevar a forma de compreender o outro – mesmo que isso tenha que ser feito, neste momento, só por trás de uma máscara.

Em tempos normais, temos a possibilidade de nos comunicamos através de três meios: pela fala, pela linguagem corporal e pela expressão facial. Quando você coloca uma máscara, você tira a informação dos dois terços inferiores do rosto, mas uma ainda se sobressai: a do olhar, que também é capaz de sorrir mesmo sem curvar a boca e mostrar os dentes.

Se os olhos são a janela da alma, eu posso te afirmar que a mente possui uma grande capacidade de adaptação ao que é novo e aqui está lançado o desafio de entender todas essas pistas não verbais inscritas nos olhos e na expressão facial na parte exposta do rosto que sobrou.

Eu explico porque isso é possível: o olhar é a parte do corpo do ser humano que mais comunica e também a que transmite conexão de maneira mais intensa. O magnetismo desses órgãos fascinantes é tão grande que muitos dos nossos comportamentos são expressados apenas no olhar, que muitas vezes, é incontrolável.

Os olhos revelam, em movimentos sutis, todo o nosso comportamento que possui a incrível capacidade de se aprofundar na mente dos outros ou ler as emoções de maneira ainda mais efetiva. Aproveite e olhe, profundamente, no olho de quem você deseja compreender mais e melhor.

Neurodicas:

Como ler as emoções através dos olhos:

  • Um piscar de olhos: O piscar de olhos excessivo é um mecanismo que coloca o cérebro em funcionamento quando nos sentimos mais nervosos do que o normal e revela quando alguma coisa nos surpreende, nos deixa indignados ou com raiva;
  • Pupila dilatada: Quando as pupilas se dilatam é sinal de que estamos vemos alguma coisa estimulante ou alguém;
  • Olhar esquivo: Quando os olhares são para os lados podem representar timidez ou mentira, a qual não consegue manter um contato visual direto e os olhos ficam esquivos;
  • Olho no olho: Essa ação, principalmente entre um casal apaixonado, revela a troca intensa de um querendo adentrar ainda mais na emoção e no sentimento do outro.
Referências:
Donato G, Bartlett MS, Hager JC, Ekman P, Sejnowski TJ. Classifying Facial Actions. IEEE Trans Pattern Anal Mach Intell. 1999;21(10):974.
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Por que a comida tem sido a principal recompensa emocional na quarentena http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/porque-a-comida-tem-sido-a-principal-recompensa-emocional-na-quarentena/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/porque-a-comida-tem-sido-a-principal-recompensa-emocional-na-quarentena/#respond Fri, 22 May 2020 07:00:06 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=268

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Dentro de casa, com as emoções à flor da pele em meio a tantas incertezas, a alimentação tem se tornado compensatória para a maioria das pessoas que estão se privando da vida, dos encontros e dos laços afetivos que tinham antes da pandemia. No cérebro, a explicação para essa descarga está ligada ao nosso circuito de recompensa dopaminérgico – aquele que processa a informação relacionada à sensação de prazer ou de satisfação.

 

O circuito cerebral do prazer, também chamado de circuito mesocorticolímbico, é formado por um pequeno grupo de regiões cerebrais nas quais são produzidos os maiores níveis de dopamina. Este circuito é ativado quando recebemos estímulos que nos dão prazer, como comer, estar entre pessoas queridas, fazer compras ou desfrutar de uma boa relação sexual.

Na ausência da maioria desses prazeres, fica por conta apenas da comida proporcionar um alívio emocional, principalmente em situações de fragilidade, como essa que o mundo todo está enfrentando.

O sistema de recompensa cerebral estabelece sensações como bem-estar, conforto, prazer e saciedade porque é composto por neurônios que se comunicam entre si por meio de um neurotransmissor principal que é a dopamina.

Os alimentos ricos em açúcar estimulam a maior quantidade de dopamina e, assim, ativam o sistema de recompensa. Por isso também que as altas fontes de carboidratos, especialmente os simples, fazem com que o corpo produza mais insulina e aumente a energia que consequentemente melhora a sensação de bem-estar. Mas tudo isso é momentâneo, não podemos esquecer que a pandemia vai passar e que é difícil correr atrás do prejuízo depois.

Para não cair em tantas tentações, é preciso entender que o seu cérebro já sabe que comer é algo agradável, e quando você faz isso com comidas gostosas as áreas do sistema de recompensa solicitam desesperadamente que você repita essa ação, especialmente a área tegmental ventral.

Quando essa informação chega ao córtex pré-frontal (porção anterior dos lobos frontais), começa a dar lugar para racionalidade e a briga entre a razão (córtex pré-frontal) e a emoção (sistema límbico, área tegmental ventral) entra em ação. Se nessa hora você pensar em interromper esse ciclo e parar de comer, seu cérebro não vai imediatamente deixar de considerar aquela comida prazerosa, mas pode te ajudar a relembrar, redescobrir ou conhecer outros sabores que também podem ser capazes de gerar sensações de prazer, aumentando assim as possibilidades de ativação do sistema de recompensa com alimentos que não irão te causar maiores danos como diabetes, hipertensão, colesterol… E por aí vai.

É por isso também que, certamente, há quem ache uma fruta mais prazerosa que um chocolate. Tudo depende da relevância atribuída e da memória relacionada a determinado alimento. Para não cair em uma cilada ainda maior, é preciso que outras áreas do cérebro, o córtex pré-frontal (que permite pensar a longo prazo), estriado dorsal (que considera fatos do passado) e núcleo accumbens (que permite fazer escolhas melhores) sejam ativadas e trabalhadas a ponto de permitir pensar a longo prazo.

Quando você se esforça, o córtex pré-frontal se sobrepõe aos outros dois. Ao repetir o processo, você consegue estabelecer um padrão e reconstruir os bons hábitos. E como fazer isso? Evitando o estresse – que é o grande inimigo do bom funcionamento do seu córtex pré-frontal.

Se nesse momento o estresse está batendo fortemente na sua porta, algumas técnicas de meditação, respiração lenta, relaxamento, boas noites de sono, fortalecimento de laços afetivos e prática de atividade física podem te ajudar a driblar tudo isso.

Neurodicas

Para aliviar o estresse e não descontar todos os seus sentimentos na comida, algumas dicas podem ajudar:

  • Distraia-se e conte até dez – isso desvia o foco da situação e reduz a intensidade emocional da carência de afago;
  • Não demonstre a raiva, a tristeza ou qualquer outro sentimento negativo. Reduzir a expressão das emoções engana o cérebro, e também diminui a relevância mental;
  • Crie pensamentos alternativos, reinterprete a situação com outro ponto de vista que seja menos carregado.
Referências:
Breiter HC, Rosen BR. Functional magnetic resonance imaging of brain reward circuitry in the human. Ann N Y Acad Sci. 1999;877:523‐547
García-García I, Horstmann A, Jurado MA, et al. Reward processing in obesity, substance addiction and non-substance addiction. Obes Rev. 2014;15(11):853‐869
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Como a neurociência explica a empatia? Saiba como ela é ativada no cérebro http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/15/como-a-neurociencia-explica-a-empatia-saiba-como-ela-e-ativada-no-cerebro/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/15/como-a-neurociencia-explica-a-empatia-saiba-como-ela-e-ativada-no-cerebro/#respond Fri, 15 May 2020 07:00:18 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=257

Crédito: iStockEmpatia é definida como a capacidade de se colocar no lugar do outro, de perceber o estado ou a condição de outra pessoa e assim desenvolver a habilidade de sentir a mesma emoção. A neurociência tem evidenciado que a empatia é na verdade uma combinação de atos conscientes e inconscientes do cérebro que depende do bom funcionamento de certas regiões para florescer.

O laboratório de neurociência da Universidade do Colorado, em Boulder (EUA) já estudou em qual parte do cérebro essa empatia pode ser gerada e se ela acontece na mesma área em qualquer pessoa.

Depois de avaliar 66 cérebros voluntários por exames de ressonância magnética funcional enquanto ouviam histórias reais de finais tristes e felizes, os voluntários contaram as emoções pessoais que cada história os fez sentir. Assim, comprovaram que a empatia aparece em funções cerebrais bem diferentes, portanto trata-se de um processo distribuído que não se restringe a apenas uma área do cérebro.

A partir da empatia despertada pelas histórias, a conclusão foi que sentimentos como solidariedade e a compaixão são processadas em regiões cerebrais como o córtex pré-frontal ventromedial e o córtex medial órbito-frontal, relacionados aos processos com os quais o cérebro avalia algo importante como alimento ou dinheiro. Mas, quando a empatia é acompanhada por despertar mais angústia do que compaixão, ativam outras regiões do cérebro, como o córtex pré-motor nos lobos frontais e o córtex somatossensorial primário nos lobos parietais.

A semelhança nisso é que ambas são conhecidas por participar dos processos chamados de espelho. É o que chamamos de neurônio-espelho ou de ação-reação. Sabe aquela história de “diga-me com quem andas que te direi quem és ?” – é bem isso. Quando um indivíduo é colocado frente a uma situação de estresse, pode responder de maneira negativa e agressiva. Isso porque as células nervosas são primeiramente responsivas às ações motoras e ativadas quando se observa uma pessoa praticando alguma atividade seja ela para o bem ou para o mal, podem fazer uma pessoa imitar alguém ou recriar uma ação, dependendo do estimulo ao qual ela foi colocada.

Vivemos em sociedade e somos moldados a ela. Por isso que, além da imitação que fazemos o tempo todo quando frente ao outro, nossos neurônios também se encarregam de certos pensamentos e comportamentos, por exemplo, a empatia. Do ponto de vista da neurociência, a empatia pode ser construída e pode ativar o mesmo sistema neural de um ato de caridade. A ciência já demonstrou que há uma forte ligação entre a caridade e a saúde mental e comprovou que quem a pratica tem menor propensão à depressão, à ansiedade e também são mais esperançosas. Mas, esse é um tema para uma próxima conversa.

Neurodicas

Empatia pode ser aprendida:

  • Desde a infância: mostrar para uma criança que quando ela tira o brinquedo do amiguinho ou do irmão isso pode interromper uma ação que o outro está fazendo;
  • Ensine sempre alguém: ajudar um colega de trabalho em uma tarefa ajuda a estimular o circuito da empatia no cérebro, mesmo que os méritos possam ir diretamente só para o outro;
  • Julgue menos: deixar de lado os próprios valores, opiniões e emoções ajuda a ver o outro como ele realmente é e diminui a projeção que criamos segundo as nossas próprias perspectivas;
  • Silencie os seus pensamentos: tente imaginar a vida e os sentimentos de outras pessoas mesmo sem conversar com elas.
Referências:
Cruz, TSF. Os efeitos da psicopatia na relação entre socialização, empatia e moralidade: um estudo eletrofisiológico. Dissertação (Mestrado integrado em Psicologia), 2013, Universidade do Porto, Portugal.
Ferrari EAM et al. Plasticidade neural: relações com o comportamento e abordagens experimentais. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 17, n. 2, p. 187-194, Aug. 2001.
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Dia das Mães: neurociência dá dicas para compensar distância no isolamento http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/dia-das-maes-neurociencia-da-dicas-para-compensar-distancia-no-isolamento/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/dia-das-maes-neurociencia-da-dicas-para-compensar-distancia-no-isolamento/#respond Fri, 08 May 2020 07:00:56 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=252

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Estudos e pesquisas comprovam a relação fisiológica e emocional que o vínculo afetivo materno produz no cérebro

Quem disse que o amor de mãe é incondicional e diferente do de pai não estava errado. A mulher, como genitora, é bombardeada por substâncias como a ocitocina e a prolactina –responsáveis pelo amor e pelo instinto protetor. Esta fase é normal, principalmente porque esses hormônios e neurotransmissores são responsáveis também por estimular a contração uterina, viabilizando o parto e também a produção e ejeção de leite. Com isso, fica claro perceber que a ligação entre mãe e filho não é só carnal, mas, também, hormonal, física e emocional.

Um estudo americano de 2016 mostrou que esse amor pode ajudar o cérebro de uma criança a se desenvolver mais. Liderado pela psiquiatra infantil Joan Luby, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, EUA, foi comprovado que uma importante área do cérebro cresce duas vezes mais rápido em crianças cujas mães demonstravam afeto e apoio emocional à sua prole, em comparação com as que eram mais distantes e sem tanto vínculo afetivo.

Através de exames de ressonância magnética foi possível conferir nas imagens o impacto do comportamento materno no hipocampo das crianças –área no cérebro localizada nos lobos temporais responsável por habilidades como a memória, o aprendizado e o controle das emoções. Devido à neuroplasticidade do sistema nervoso central, que é bem maior nos primeiros anos de vida, segundo esse estudo, este é um período crucial em que o cérebro responde mais ativamente ao apoio materno.

Uma outra pesquisa realizada em 2015, também nos Estados Unidos, no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em Cambridge, conseguiu pela primeira vez no mundo capturar o amor entre uma mãe e um filho também com a ajuda de exame de ressonância magnética que detectou a reação neurofuncional no cérebro de um bebê de dois meses enquanto sua mãe o beijava. Foi possível observar o incremento regional do fluxo sanguíneo no cérebro do bebê e como a atividade cerebral muda em reação ao estimulo do beijo que ele estava recebendo.

Já sabemos que o beijo causa uma reação química no seu cérebro, que inclui uma explosão de ocitocina (popularmente conhecido como o hormônio do amor) que desperta sentimentos de carinho, afeto e apego. O beijo também ativa o sistema de recompensa do cérebro e libera a dopamina e a serotonina, outros neurotransmissores do prazer, que regulam o bom humor.

Se já está mais do que comprovado que o amor, o vínculo, o beijo, o abraço e o afeto são as ligações mais fortes entre mães e filhos e capazes de estimular excelentes laços e nos deixar mais felizes, então como lidar com essa emoção diante de uma data tão especial como o Dia das Mães em que se faz necessário o distanciamento social?

É importante é reforçar os laços de afeto e criar maneiras de se fazer presente –mesmo que não seja fisicamente. Ainda é fundamental perceber que o afastamento social é completamente diferente de isolamento emocional. Sentimentos como o respeito, a admiração, o carinho e o amor incondicional e a saudade parecem potencializados quando não se está por perto e isso é natural por conta dos efeitos negativos que a ausência física causa. Assim, fica cada vez mais claro perceber o valor em estar presente, em contato com quem amamos.

A explicação se dá pela maneira como o nosso cérebro trabalha com recompensas já ao abraçar – ou ser abraçado – é ativado o circuito mesolímbico dopaminérgico, uma região responsável por emoções agradáveis. Uma descarga de neurotransmissores e substâncias que causam bem-estar são disparadas para todo o corpo, causando a sensação de conforto que só o contato com alguém de quem gostamos muito, pode causar.

Mesmo sem o contato físico afetuoso, uma ligação de vídeo pode aguçar a audição e a visão, ainda que não estimule o olfato e o tato que um abraço presencial provoca. Isso tudo porque o cérebro fica sensibilizado pela proximidade virtual e pela troca de ‘energia’ entre duas pessoas. Quem está do outro lado da tela e recebe o afeto virtual também experimenta a aceitação do outro e isso pode ser muito bom para transmitir amor, respeito e elevar a estima.

Aproveite o poder da tecnologia nessa fase e estimule seu cérebro aos novos sentimentos. Em breve, no pós-pandemia você vai até sentir falta desses desafios que a sua mente está enfrentando.

Neurodicas:

  • Minimize o afastamento ligando para saber se sua mãe ou seu filho está bem, para dar um beijo e um abraço virtual que também são demonstrações de carinho;
  • Não deixe de dizer à sua mãe ou ao seu filho o quanto são amados e importantes para você, não espere para fazer isso em apenas uma data especial;
  • Abuse das ligações de vídeo e do envio de fotos. As imagens e informações visuais são processadas pelos lobos occiptais e encaminhadas no cérebro para o sistema límbico, que é o circuito emocional. Dessa forma, o acúmulo de emoções que envolvem essa ação promove uma mudança de comportamento diferente e positiva no cérebro.
Referência:
MAIA, B. A influência da ocitocina na construção do vínculo afetivo entre mãe e filho. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – IAMSPE. São Paulo, p.49. 2020.
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Relacionamentos e pandemia: distância física muda nosso comportamento http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/01/relacionamentos-e-pandemia-distancia-fisica-muda-nosso-comportamento/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/05/01/relacionamentos-e-pandemia-distancia-fisica-muda-nosso-comportamento/#respond Fri, 01 May 2020 07:00:33 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=247

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Há algumas semanas era inevitável e extremamente comum encontrar com um amigo ou com um familiar e abraçar, apertar as mãos ou se beijar. Hoje, quando vemos uma cena dessas, ainda que seja pela televisão, já nos causa estranheza. O calor do brasileiro em comprimentos afetuosos e trocas físicas já ficou para trás e historicamente estamos vivendo um novo momento. Será que a era tecnológica, a qual já viemos experimentamos há alguns anos, marcará de vez uma nova maneira de nos relacionarmos?

Para entender melhor, eu proponho uma volta no tempo.

Antes dos anos 1960 as relações eram extremamente conservadoras e as mulheres ocupavam um papel de submissão ao homem além de terem como praticamente as únicas funções os afazeres domésticos e cuidar dos filhos. Nesse tempo, também não existiam muitos parceiros e era comum que uma mulher se relacionasse apenas com um único homem por toda a sua vida.

Foi nessa década, com o Movimento Hippie, que pudemos vivenciar importantes mudanças culturais e de comportamento nos relacionamentos afetivos e amorosos que perduraram por anos. Nessa época, as mulheres começaram a queimar sutiãs em praças públicas, o que, simbolicamente, significaria que não eram apenas um objeto de reprodução e desejo sexual. O movimento feminista ganhou forças assim como a revolução sexual que quebrou o tabu da virgindade como uma forma de libertação. A pílula anticoncepcional e a camisinha viraram arma na luta pelo prazer, além de permitir que o sexo e os beijos pudessem ser trocados em larga escala. Assim, os números de relacionamentos acumulados ao longo da vida e mudanças de parceiros se tornaram comuns.

Com tanta liberdade, na década de 1980, o vírus do HIV veio para mudar esses costumes, acumulando 25 milhões de mortes em 25 anos. Essa foi uma epidemia que abalou economias, destruiu populações e mudou de vez as relações. Como o contagio se dava principalmente pelo sexo, a revolução sexual causada nos anos 1960 e 1970 deu lugar à era do “sexo seguro”, com a redução do número de parceiros e com o uso de preservativos.

Na pandemia atual, o contagio se dá pelas gotículas de saliva e secreções buco-nasais, então o beijo se tornou altamente restritivo e com isso, as novas formas de relacionamentos devem mudar ainda mais, e será preciso mais uma readequação.

Ao mesmo tempo, curiosamente, a tecnologia e a internet já dominam nosso mundo há anos. Há algum tempo já foram desenvolvidas modalidades de interação como encontros e congressos virtuais, teleconferências, educação à distância, comércio online, etc. Se por um lado isso permite reinventar a maneira de se relacionar em caráter emergencial diante dessa crise, para o cérebro isso só serve como acalento momentâneo e a explicação é fisiológica.

Como o nosso cérebro trabalha com recompensas, ao abraçar –ou ser abraçado –ativamos o circuito mesolímbico dopaminérgico, região responsável por emoções agradáveis e uma descarga de neurotransmissores (dopamina e ocitocina) e substâncias que causam bem-estar são disparadas para todo o corpo, causando a sensação de conforto que só um abraço bem apertado, de alguém de quem gostamos, é capaz de causar.

Além de ser um ato de carinho, o abraço também é capaz de estimular as funções cerebrais e ativar os cinco sentidos. Com este contato físico afetuoso pode-se aguçar a audição, a visão, o olfato e o tato. Se ele vier acompanhado de um beijo, o paladar também é ativado e o cérebro fica sensibilizado pela proximidade física, pela troca de ‘energia’ entre duas pessoas. Quem recebe o abraço também experimenta a aceitação do outro e isto pode ser muito bom para transmitir amor, respeito e elevar a estima – coisas que o mundo virtual é incapaz de oferecer.

Um outro fato curioso é que, antes da existência dos aplicativos de relacionamentos e das redes sociais, o mais comum era que as pessoas se conhecessem através de amigos, o que dificultava e muitas vezes atrasava esses encontros pessoais. O problema é que isso, somado à sensação de que está mais fácil entrar e sair de relacionamentos, pode levar à banalização desses comportamentos.

Um levantamento do aplicativo Happn em parceria com o YouGov mostrou que 82% dos jovens acreditam que ficou muito mais fácil flertar após o surgimento dos sites e apps. Esse pode ser um efeito negativo e uma grande prova de que as relações –por mais moderno e tecnológico que seja o mundo – ainda necessitam de um contato físico, pelo menos enquanto o cérebro humano ainda estiver programado para tal.

Por enquanto, a tecnologia da comunicação à distância não consegue acionar mais que dois sentidos diretamente, a visão e a audição. E o olfato que tem entrada direta para áreas cerebrais relacionadas ao prazer e à memória (área septal e uncus) apenas é possível através do contato humano presencial.

Neurodicas:

  • Em época de pandemia, as trocas de carinhos feitas remotamente servem como forma de aproximação, ainda que virtual. Aposte nelas;
  • Não deixe de dizer que ama, que gosta e que sente saudades. O distanciamento é social e não emocional;
  • É fundamental ter um canal aberto de comunicação com as pessoas que moram com você para que as relações afetivas e emocionais sejam mantidas. Todo comportamento unilateral, sem abertura a quem está ao seu lado, pode ser danoso para o sistema psíquico, podendo levar até a doenças emocionais;
  • Mantenha o autocontrole e compreenda que em tempo algum uma pandemia durou para sempre. Não estamos vivenciando a primeira, e possivelmente não será a última. Isso vai acabar e se tivermos inteligência emocional, interpessoal e existencial para passar por isso, certamente iremos sair dessa mais inteligentes do ponto de vista mental e emocional.
Referência:
Reis A. Sociedade.com, Editora Arquipélago Editorial, 2018
Pinto F. A neurociência do amor. Editora Planeta, 2017.
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Produtividade em encontros remotos pode ser similar aos presenciais http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/04/24/produtividade-em-encontros-remotos-pode-ser-similar-aos-presenciais/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/04/24/produtividade-em-encontros-remotos-pode-ser-similar-aos-presenciais/#respond Fri, 24 Apr 2020 07:00:30 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=245

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As experiências sociais do ser humano e o ambiente no qual ele está inserido, formam a sua cognição, ou seja, o cérebro se modifica e se desenvolve com o novo. Mas, em tempos de isolamento, os encontros online podem ser tão produtivos quantos os presenciais?

 

Provavelmente você se recorda de em algum dia já ter dito: “olhei, mas não vi”. A explicação para isso é cientificamente mais recorrente do que imaginamos. Estudos de percepção da neurociência apontam que podemos até processar aquilo para o qual não voltamos nossa atenção, porém só teremos consciência quando nossa atenção está focada em determinada ação. Isso significa que se não focarmos a atenção plenamente nos estímulos pelos quais estamos envolvidos, seja esse o som, o cheiro ou a imagem, essa informação não chega ao nosso consciente e, portanto, é descartada.

Se ao olho nu isso já não acontece com facilidade, como será em tempos de aulas e reuniões remotas? Dá para manter a mesma produtividade ou aumentar ainda mais o foco em ações online? Para a neurociência isso é perfeitamente possível. Partindo da nossa convicção de que o cérebro é plástico, ou seja, ele tem a grande capacidade de criar novas conexões neuronais ao longo de toda a vida e de se adaptar as mais diversas situações, dá para melhorar muito a nova forma de trabalhar e de estudar online.

É a chamada neurociência cognitiva, que estuda as capacidades mentais como pensamento, aprendizado, inteligência, memória, linguagem e percepção que temos que ter diante de cada tarefa que precisa ser realizada.
O fato de uma aula ou uma reunião não ser presencial não reduz a dificuldade do conteúdo e nem o nível de atenção que deve ser dedicado, muito pelo contrário. Isso porque, não terá nenhum chefe ou professor olhando o seu trabalho ser feito linha por linha, também não estarão ao seu lado para sanar dúvidas e você não terá motivos para distração ou desculpas e o trabalho deve ser concluído e entregue nos mesmos prazos que seriam exigidos se isso tudo tivesse que ser feito presencialmente. Não importa como o conhecimento está sendo repassado (com o uso de tecnologia ou de um quadro negro), as informações devem ser absorvidas e sintetizadas.

Um estudo feito no Instituto de Ciências do Ensino Básico, Academia de Ciências da Educação de Pequim, na China, entre os anos de 2000 e 2017 avaliou conhecimentos e resultados de habilidades de alguns estudantes de graduação e através de metanálises e afirmaram que há uma diferença estatisticamente significativa entre aprendizagem online e offline e concluíram que não há evidências de que o aprendizado offline funcione melhor. Se comparado ao aprendizado presencial, o aprendizado remoto tem vantagens para aprimorar o conhecimento e as habilidades dos que a executam, portanto pode ser considerado como um método potencial para produzir e render intelectualmente. Segundo a pesquisa, o aprendizado online tem suas vantagens, mas para garantir a eficácia os materiais digitais precisam ser adaptados de maneira a serem mais objetivos e claros.

Para provar que a tecnologia pode ser usada a seu favor, outro grande exemplo é o trânsito congestionado nas capitais que fazem com que muita gente perca horas em locomoção de casa para o trabalho ou para escola. Sem essa necessidade, essas horas podem ser revertidas para o aumento da produtividade no ensino ou no trabalho, ou para as atividades pessoais ou até dedicadas ao sono –uma grande ferramenta capaz de estimular o foco e o aprendizado.

Outro grande trunfo do trabalho remoto é que, dentro de casa, a qualidade da alimentação caseira pode influenciar diretamente na atenção e no foco. Coisas que são mais difíceis acontecer quando os almoços executivos ofertam as tentações das comidas gordurosas que atrapalham o funcionamento cerebral.

É natural do ser humano compensar a presença física e o contato visual para distrair a atenção que deveria ser plena em encontros presenciais. Por isso que a distração dos ambientes de trabalho para a hora do cafezinho, para as conversas com colegas que acabam reduzindo o tempo de produção são sanadas com o trabalho remoto.

Para tirar o melhor de tudo isso e se reinventar com inteligência aos novos moldes é preciso foco para dominar e criar um envolvimento criativo de oportunidades estruturadas para se envolver totalmente em uma ação online. O lado bom disso tudo é que depois de aprender a lidar com o novo, com todos os mistérios e segredos desvendados fica simples lidar com qualquer adversidade que possa aparecer mais pra frente. E mais do que isso: é perfeitamente possível se sair sempre muito bem em todas as novidades que possam aparecer.

Neurodicas para aumentar a produtividade no mundo online:

  • Estipule limites: quando você mora no escritório, é fácil trabalhar ou estudar demais. Se policie e crie rotina diária com horário exato da sua jornada para começar e terminar o seu dia de trabalho;
  • Bloqueie as distrações na internet: existem ferramentas possíveis para bloquear sites e aplicativos. Caso tente abrir uma URL bloqueada, um alerta aparece para que você volte às suas tarefas;
  • Organize uma lista com todas as tarefas do dia e risque-as a medida em que forem sendo cumpridas;
  • Escolha um ambiente específico da casa apenas para se dedicar aos estudos ou ao trabalho que seja tranquilo com uma mesa ou escrivaninha, boa iluminação, cadeira confortável e todo o material que será necessário próximo as suas mãos;
  • Escolha o seu melhor horário: já que não é preciso bater cartão, leve em consideração qual o momento do dia em que você costuma ser mais produtivo, manhã, tarde ou noite, por exemplo, e abuse disso.
Referência:
Pei L, Wu H. Does online learning work better than offline learning in undergraduate medical education? A systematic review and meta-analysis. Med Educ Online. 2019;24(1):1666538.
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A dieta da mente: o que o seu cérebro precisa comer? http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/04/17/a-dieta-da-mente-o-que-o-seu-cerebro-precisa-comer/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/04/17/a-dieta-da-mente-o-que-o-seu-cerebro-precisa-comer/#respond Fri, 17 Apr 2020 07:00:36 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=233  

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Quando vem a fome e a barriga ronca depois de algumas horas sem comer, quem na verdade está mandando essa informação para a sua mente é a grelina, substância produzida e liberada pelo estômago que sinaliza para o hipotálamo, região do cérebro responsável por programar o circuito neural da fome. É nessa região cerebral que o apetite é regulado. Ali, os níveis sanguíneos de glicose e insulina e os hormônios grelina e leptina são monitorados para avaliar se o organismo tem calorias e nutrientes suficientes para funcionar ou não.

Uma combinação de líquidos, cafeína, vitaminas e carboidratos compõem a quantidade ideal de energia e pode ser tudo o que seus os neurônios precisam para funcionar adequadamente. Por isso que dietas altamente restritivas e sem acompanhamento adequado podem deixar uma pessoa sem energia e com as habilidades de raciocínio comprometidas.

Para que os níveis de glicose sejam estáveis durante o dia, é extremamente importante realizar três refeições maiores todos os dias intercaladas por pequenos lanches. Então, um café da manhã reforçado, um almoço ponderado com proteínas e carboidratos e um jantar menos pesado constituem as três maiores refeições que garantem o combustível completo do cérebro para aumentar a concentração, a agilidade mental, a paciência e até o bom humor já que cada grupo de alimento exerce uma função diferente e essencial no cérebro. A alimentação fracionada pode fazer toda a diferença para o bom funcionamento da mente.

As evidências cientificas já nos provaram que o estilo de vida exerce um papel importantíssimo no incremento das funções cerebrais e na prevenção das doenças neurodegenerativas. Tudo isso começa na alimentação. Uma das dietas mais estudadas atualmente é a dieta mediterrânea, que diminui os riscos de desenvolver Alzheimer e Parkinson, além de doenças cardiovasculares e obesidade, que indiretamente também incidem sobre a saúde encefálica. A dieta mediterrânea típica inclui azeite de oliva, vinho tinto, vegetais, carboidratos integrais, peixes e carne branca.

Um artigo americano recente conseguiu mostrar uma revisão abrangente do azeite extra-virgem e os benefícios do consumo de ácidos graxos e ômega 3 dos peixes. Os ensaios clínicos confirmam os efeitos salutares do consumo de peixe na prevenção de doença arterial coronariana, AVC (acidente vascular cerebral) e das demências.

Os polifenóis e flavonóides de origem vegetal desempenham um papel fundamental dentro da dieta mediterrânea, graças às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias de benefício no diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e prevenção de câncer.

Do ponto de vista da saúde pública em todo o mundo, o consumo diário de frutas e vegetais tornou-se a principal ferramenta de prevenção de doenças cardiovasculares e derrames. Mas, para o bom funcionamento do cérebro há diversos alimentos com nutrientes essenciais que precisam ser balanceados. E é por isso também que a ingestão de grande quantidade de alimentos em uma refeição única no dia provoca grande gasto energético para o sistema digestivo e consequentemente sonolência, o que diminui muito a performance mental.

A chave de tudo é a variedade, mas sem deixar de lado a moderação. Não existem alimentos e nem dietas milagrosas, mas há sim inimigos para o cérebro, como o excesso de sal, de açúcar e as gorduras trans encontradas em alimentos processados. E os amigos, que listo indicando a razão para eles entrarem de vez, na sua dieta:

  • Todos os dias: amêndoas, nozes, feijão, uma taça de vinho e azeite de oliva;
  • Pelo menos três vezes ao dia: folhas verdes escuras, legumes variados e grãos integrais;
  • Pelo menos duas vezes na semana: carne de aves e frutas vermelhas;
  • Uma vez por semana: peixes;
  • Restringir a ingestão de: manteiga (menos de uma colher de sopa ao dia) queijos, frituras, fast foods e doces (menos de uma porção por semana).

Neurodicas:

Para evitar os exageros e o estabelecer uma relação efetiva e saudável com a comida, algumas dicas são essenciais.

  • Pegue o prato na mão: O cérebro não faz distinção entre peso da comida e do prato. Então quando seguramos o prato, nosso inconsciente entende que temos muito mais comida servida do que a realidade. Como consequência, ficamos satisfeitos mais rápido e com menos comida.
  • Mantenha o foco: Quando comemos, todas as nossas atenções devem estar na comida. Nosso cérebro precisa se concentrar em todos os estímulos dados pela refeição para que fiquemos satisfeitos. Quando não prestamos atenção na comida, não ficamos satisfeitos e podemos comer rápido demais.
  • Não confunda ansiedade com fome: A ansiedade é um sentimento caracterizado por causar um estado emocional desagradável, um comportamento nervoso e pensamentos acelerados que podem se misturar, entre outros sintomas, com a sensação de vazio no estômago. Muitas vezes, essas emoções e sensações negativas desencadeadas pela ansiedade ainda podem aumentar a fome. Essa relação pode ser rapidamente lembrada por você que, com certeza, já passou por aquele dia em que atacou a geladeira e depois ainda arrematou uma barra de chocolate. Esse é um episódio de alimentação emocional, quando você usa a comida como uma forma de consolo emocional. Esse comportamento pode até ser considerado normal se não acontecer rotineiramente. Fique de olho e trate sua ansiedade, caso seja necessário.

Referência:
Román GC et al. Mediterranean diet: The role of long-chain ω-3 fatty acids in fish; polyphenols in fruits, vegetables, cereals, coffee, tea, cacao and wine; probiotics and vitamins in prevention of stroke, age-related cognitive decline, and Alzheimer disease. Rev Neurol (Paris). 2019 Dec;175(10):724-741.

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Segredo para não ter insônia tem a ver com entrada de informações na mente http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/04/10/segredo-para-nao-ter-insonia-tem-a-ver-com-entrada-de-informacoes-na-mente/ http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/2020/04/10/segredo-para-nao-ter-insonia-tem-a-ver-com-entrada-de-informacoes-na-mente/#respond Fri, 10 Apr 2020 07:00:22 +0000 http://fernandogomes.blogosfera.uol.com.br/?p=231

Crédito: Kinga Cichewicz on Unsplash

A insônia infelizmente é muito comum e acomete cerca de 40% dos brasileiros, segundo o Ministério da Saúde. Apesar de não ser considerada uma doença em si, pode ser um alarme de muitos distúrbios como alergias, obesidade, doenças cardíacas, ansiedade, depressão e até mesmo Parkinson e Alzheimer. Porém, se ela continuar insistindo sem que nenhuma destas doenças seja diagnosticada, é porque provavelmente os maus hábitos na hora de dormir estão provocando o problema. E daí não tem remédio que dê jeito ou chá milagroso que faça pegar no sono, pois o segredo está na mudança de hábitos.

O cérebro funciona como um grande editor de informações e a mente funciona como um processador. O cérebro foca nos detalhes mais importantes e lhes dá significado emocional. Por isso, é preciso administrar as informações recebidas antes de dormir, pois elas interferem diretamente na qualidade do sono. E isso depende muito das notícias que são consumidas antes de ir para a cama, isso inclui filmes, séries, jogos de videogame e acessos à internet.

Dependendo do turbilhão de informações que invadem o cérebro, o tempo de sono reparador é diretamente afetado e quem não dorme o suficiente pode apresentar lapsos de memória e uma percepção visual distorcida devido a uma falha de comunicação temporária entre os neurônios, de forma bem semelhante à embriaguez. Além disso, a falta de sono reduz a capacidade de funcionamento dos lobos frontais, causando lapsos cognitivos e redução do desempenho das funções executivas. Isso prejudica a forma como percebemos e reagimos ao que acontece ao nosso redor além de acarretar prejuízos cognitivos, como perda de memória e dificuldade de concentração.

Uma noite mal dormida provoca irritabilidade durante o dia e interfere na liberação de cortisol e ACTH, hormônios responsáveis pelo estresse que ainda reduzem a produção de células de defesa responsáveis pela tão importante imunidade. No mais, ainda causam uma tremenda confusão cerebral capaz até de acelerar o envelhecimento das funções mentais.

Por essas e outras que diversos estudos já comprovaram que a sesta (aquela dormidinha rápida de até 20 minutos após o almoço) previne de 2 a 10 anos o declínio cognitivo no ser humano. Em contrapartida, quem dorme menos que 6 horas por noite tem maior risco de declínio cognitivo em 10 anos.

Agora que você já tem motivos de sobra para cuidar com mais carinho do seu sono, lembre-se que existem diversos tratamentos para a insônia e algumas pessoas necessitam sim de acompanhamento mais estruturado e a longo prazo. Já outras, conseguem dormir melhor apenas com uma rotina estruturada ou adoção de hábitos benéficos, o que é chamado de higiene do sono.

Neurodicas

  • Não acesse informações que possam não te agradar, por pelo menos duas horas antes de ir para a cama;
  • Organize-se para ir mais cedo para a cama;
  • Não fragmente o sono;
  • Procure se deitar e acordar sempre no mesmo horário, mesmo que a rotina tenha se alterado;
  • Não exagere em café, chás e refrigerantes durante o dia;
  • Pratique suas atividades físicas preferencialmente durante o dia;
  • Opte por atividades relaxantes à noite como meditação e técnicas de respiração lenta;
  • Use travesseiros que alinhem o pescoço e o tronco;
  • O colchão deve se adaptar às curvas anatômicas do corpo e ser confortável;
  • Entenda que o bom sono da noite, garante o excelente dia de amanhã e que se manter acordado durante a noite não irá ajudar a solucionar os problemas da manhã seguinte.
Referência:
Chung KF et ao. Sleep hygiene education as a treatment of insomnia: a systematic review and meta-analysis. Fam Pract. 2018;35(4):365–375.
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