Dia das Mães: neurociência dá dicas para compensar distância no isolamento
Estudos e pesquisas comprovam a relação fisiológica e emocional que o vínculo afetivo materno produz no cérebro
Quem disse que o amor de mãe é incondicional e diferente do de pai não estava errado. A mulher, como genitora, é bombardeada por substâncias como a ocitocina e a prolactina –responsáveis pelo amor e pelo instinto protetor. Esta fase é normal, principalmente porque esses hormônios e neurotransmissores são responsáveis também por estimular a contração uterina, viabilizando o parto e também a produção e ejeção de leite. Com isso, fica claro perceber que a ligação entre mãe e filho não é só carnal, mas, também, hormonal, física e emocional.
Um estudo americano de 2016 mostrou que esse amor pode ajudar o cérebro de uma criança a se desenvolver mais. Liderado pela psiquiatra infantil Joan Luby, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, EUA, foi comprovado que uma importante área do cérebro cresce duas vezes mais rápido em crianças cujas mães demonstravam afeto e apoio emocional à sua prole, em comparação com as que eram mais distantes e sem tanto vínculo afetivo.
Através de exames de ressonância magnética foi possível conferir nas imagens o impacto do comportamento materno no hipocampo das crianças –área no cérebro localizada nos lobos temporais responsável por habilidades como a memória, o aprendizado e o controle das emoções. Devido à neuroplasticidade do sistema nervoso central, que é bem maior nos primeiros anos de vida, segundo esse estudo, este é um período crucial em que o cérebro responde mais ativamente ao apoio materno.
Uma outra pesquisa realizada em 2015, também nos Estados Unidos, no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em Cambridge, conseguiu pela primeira vez no mundo capturar o amor entre uma mãe e um filho também com a ajuda de exame de ressonância magnética que detectou a reação neurofuncional no cérebro de um bebê de dois meses enquanto sua mãe o beijava. Foi possível observar o incremento regional do fluxo sanguíneo no cérebro do bebê e como a atividade cerebral muda em reação ao estimulo do beijo que ele estava recebendo.
Já sabemos que o beijo causa uma reação química no seu cérebro, que inclui uma explosão de ocitocina (popularmente conhecido como o hormônio do amor) que desperta sentimentos de carinho, afeto e apego. O beijo também ativa o sistema de recompensa do cérebro e libera a dopamina e a serotonina, outros neurotransmissores do prazer, que regulam o bom humor.
Se já está mais do que comprovado que o amor, o vínculo, o beijo, o abraço e o afeto são as ligações mais fortes entre mães e filhos e capazes de estimular excelentes laços e nos deixar mais felizes, então como lidar com essa emoção diante de uma data tão especial como o Dia das Mães em que se faz necessário o distanciamento social?
É importante é reforçar os laços de afeto e criar maneiras de se fazer presente –mesmo que não seja fisicamente. Ainda é fundamental perceber que o afastamento social é completamente diferente de isolamento emocional. Sentimentos como o respeito, a admiração, o carinho e o amor incondicional e a saudade parecem potencializados quando não se está por perto e isso é natural por conta dos efeitos negativos que a ausência física causa. Assim, fica cada vez mais claro perceber o valor em estar presente, em contato com quem amamos.
A explicação se dá pela maneira como o nosso cérebro trabalha com recompensas já ao abraçar – ou ser abraçado – é ativado o circuito mesolímbico dopaminérgico, uma região responsável por emoções agradáveis. Uma descarga de neurotransmissores e substâncias que causam bem-estar são disparadas para todo o corpo, causando a sensação de conforto que só o contato com alguém de quem gostamos muito, pode causar.
Mesmo sem o contato físico afetuoso, uma ligação de vídeo pode aguçar a audição e a visão, ainda que não estimule o olfato e o tato que um abraço presencial provoca. Isso tudo porque o cérebro fica sensibilizado pela proximidade virtual e pela troca de 'energia' entre duas pessoas. Quem está do outro lado da tela e recebe o afeto virtual também experimenta a aceitação do outro e isso pode ser muito bom para transmitir amor, respeito e elevar a estima.
Aproveite o poder da tecnologia nessa fase e estimule seu cérebro aos novos sentimentos. Em breve, no pós-pandemia você vai até sentir falta desses desafios que a sua mente está enfrentando.
Neurodicas:
- Minimize o afastamento ligando para saber se sua mãe ou seu filho está bem, para dar um beijo e um abraço virtual que também são demonstrações de carinho;
- Não deixe de dizer à sua mãe ou ao seu filho o quanto são amados e importantes para você, não espere para fazer isso em apenas uma data especial;
- Abuse das ligações de vídeo e do envio de fotos. As imagens e informações visuais são processadas pelos lobos occiptais e encaminhadas no cérebro para o sistema límbico, que é o circuito emocional. Dessa forma, o acúmulo de emoções que envolvem essa ação promove uma mudança de comportamento diferente e positiva no cérebro.