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Fernando Gomes

Como treinar o cérebro para ser mais otimista em apenas 21 dias

Fernando Gomes

03/01/2020 04h00

Crédito: iStock

Pessoas pessimistas e ansiosas podem treinar o cérebro para se tornarem mais calmas e otimistas

De um lado a expectativa, de outro, a realidade.

Estar entre o pessimismo e o otimismo é uma elaborada estratégia do nosso cérebro para buscar o equilíbrio e nos fazer seguir adiante. Mas, ele não consegue essa façanha sozinho. Existe uma tendência dos nossos neurônios de pender para o otimismo ao projetar o futuro – e isso acontece em mais de 2/3 das vezes com a maioria das pessoas. E os impactos do otimismo, já comprovados pela neurociência, mostram que isso vai muito além de sonhar com dias melhores. Essa boa sensação que os otimistas podem desfrutar facilita os relacionamentos, melhora a autoestima e até ajuda a movimentar a economia mesmo em tempos de crise.
Então, vamos melhorar essa estatística e atingir esses 100%? Motivos não faltam.

Durante a elaboração dos pensamentos positivos no cérebro, há uma queda na atividade do córtex pré-frontal, região responsável por monitorar a diferença entre a realidade e o que imaginamos para o futuro. Quanto maior o grau de otimismo, menor a atividade nessa área, ou seja, essa economia de energia que o seu cérebro faz pode servir muito bem em outras ocasiões. Eu te garanto que vale a pena.

Ao contrário do que muita gente pensa, otimismo ou pessimismo não nascem com a gente, é possível (e necessário) virar essa chave. Aqueles que são "neuróticos" e constantemente preocupados tendem a ter o estresse e o pessimismo como companheiros mentais, capazes de afetar a saúde do corpo físico, com impacto negativo no sistema imunológico. Por isso, essa mudança é importante para melhorar a qualidade de vida da pessoa e daqueles com quem ele convive. No mais, esses sentimentos ainda colaboram com o surgimento de várias doenças, mas podemos treinar o nosso cérebro para não nos deixar afetar por eles.

Que tal começar a praticar para iniciar o próximo ano bem mais otimista?

Diversos estudos já comprovaram que tudo que fazemos após 21 dias vira um hábito. Se tudo correr bem, em três semanas você já será uma nova versão de você mesmo: um modelo 2020 totalmente renovado.

Uma das formas de treinar é com a meditação. Ao se concentrar por 10 a 20 minutos, o corpo se acalma e prestamos mais atenção no que acontece conosco e com o nosso entorno, sem perder a consciência, deixando os pensamentos ir e vir na mente e sem ficar remoendo cada um deles. Aos poucos, o cérebro começa a reconhecer o que é realmente importante e o que é 'descartável' e nos faz mal, reduzindo a ansiedade.

Um estudo feito há cerca de 40 anos na Universidade de Yale constatou que os pessimistas vivem, em média, sete anos e meio menos do que os otimistas. Ainda de acordo com uma análise divulgada pela PNAS Proceedings of the National Academy, dos EUA, quem é otimista tem a vida prolongada em cerca de 11% a 15% em comparação com os pessimistas. São mais alguns bons motivos para mudar de atitude, não é mesmo?

Eu ainda arriscaria afirmar que o otimismo nos faz assumir riscos e, com isso, avançar. E o seu cérebro, com certeza, vai te agradecer!

Neurodicas para ser mais otimista

1 – Preste atenção nas coisas boas e as celebre Pode até ser coisa bem simples, como comemorar uma vaga que você encontrou para estacionar o seu carro, ou por ter lembrado de levar um guarda-chuva em um dia que a chuva poderia te pegar de surpresa.

2 – Seja mais confiante Pessoas pessimistas tendem a ser fatalistas. Ou seja, se você acredita que qualquer obstáculo pode acabar com você, então ele te afetará ainda mais.

3 – Encare a realidade Não ignore os seus problemas, e enfrente-os de uma maneira positiva. Sempre tem uma metade do copo que está cheia!

4 – Seja uma pessoa sociável Faça questão de estar próximo às pessoas que você gosta. Mesmo com a vida corrida, manter-se em ciclos sociais saudáveis faz muito bem ao cérebro e ao coração.

5 – Sorria O simples ato de colocar um sorriso no rosto reafirma os momentos positivos e eterniza a felicidade.

6 – Seja grato A gratidão ativa o nosso circuito de recompensa cerebral e libera dopamina quando nos sentimos agradecidos e reconhecemos as nossas conquistas, profissionais e pessoais, quando conseguimos estar próximos das pessoas que amamos, da família que temos, dos amigos que cativamos, das metas e objetivos que alcançamos e por aí vai. O ser humano pode conduzir a mente para onde desejar, fazer esse exercício de gratidão é uma escolha para estimular o seu cérebro ter maior percepção das coisas boas da vida.

Referência:
– Lee L.O. et al. Optimism is associated with exceptional longevity in 2 epidemiologic cohorts of men and women. PNAS September 10, 2019 116 (37) 18357-1836

Sobre o Autor

Fernando Gomes é neurocirurgião e neurocientista, graduado em medicina pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Concluiu Residência Médica em neurologia e neurocirurgia no HC (Hospital das Clínicas) da FMUSP e possui título de especialista em neurocirurgia pela SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia). É pós-graduado em neurocirurgia pediátrica pela World Federation of Neurosurgical Societies, doutor em neurotraumatologia experimental pela FMUSP e professor livre-docente pela disciplina de neurocirurgia da FMUSP. Autor de 8 livros ligados à medicina e ao comportamento humano, consultor e apresentador do quadro “E agora, doutor?” do programa “Aqui na Band” da Rede Bandeirantes de Televisão.

Sobre o Blog

Com temas ligados a medicina e a neurociência, esse espaço é dedicado a viajar pelo cérebro humano e desvendar os mistérios da mente. Com explicações simples e embasadas cientificamente, por aqui é possível passear pela maior e mais poderosa máquina que mora dentro da cabeça de todos os seres humanos. E, ao desvendar os aspectos físicos e comportamentais das habilidades, emoções e necessidades do comportamento humano fica mais fácil aplicar técnicas e novos hábitos para que rotina seja leve, saudável e prazerosa e turbinada em todos os aspectos.

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