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Fernando Gomes

Soluços de recém-nascidos podem ser o início do desenvolvimento do cérebro

Fernando Gomes

22/11/2019 04h00

Crédito: iStock

Os circuitos que processam sensações corporais podem ser um marco crucial para o desenvolvimento do cérebro de bebês

Os soluços, em geral, começam no útero com apenas nove semanas de gestação e assim se tornam um dos primeiros padrões estabelecidos de atividade encefálica. Isso foi comprovado por um estudo de neurofisiologia clínica, publicado nessa semana na Clinical Neurophysiology.

A base da pesquisa foi feita através da análise do cérebro de recém-nascidos e abordou sobre as contrações dos músculos do diafragma durante soluços que evocam uma resposta significativa no córtex do cérebro, causando duas grandes ondas cerebrais na quais, cada vez que um bebê soluça, ele desencadeia uma grande onda de sinais que podem auxiliar no aprendizado da respiração – um dos primeiros desenvolvimentos vitais.

O estudo envolveu 13 recém-nascidos em uma unidade neonatal que tiveram um ataque de soluços. Os bebês apresentavam histórico de 30 a 42 semanas de idade gestacional. A atividade cerebral foi registrada com eletrodos de EEG (eletroencefalografia) colocados no couro cabeludo dos bebês, enquanto sensores de movimento no dorso das crianças forneceram um registro de quando eles estavam soluçando.

Assim, foi possível descobrir que a atividade resultante de um soluço pode estar ajudando esses cérebros a aprenderem a monitorarem os músculos respiratórios para que, eventualmente, a respiração possa ser controlada voluntariamente movendo o diafragma para cima e para baixo.

Após a pesquisa, uma curiosidade ainda paira sobre a neurociência: o soluço em adultos, que parece ser principalmente um incômodo, pode ser um reflexo vestigial, proveniente do início da vida intrauterina e neonatal, quando esse processo tinha uma função importante.

Neurodica

Antes de dar um susto em alguém na tentativa de abortar os soluços, lembre-se que há indícios de que o soluço tem relação com o desenvolvimento do controle cerebral voluntário da respiração e portanto, a melhor dica inicial, em vez de provocar um pânico em quem já está com desconforto, poderia ser: "respire com calma e sinta que o todo o processo de inspiração e expiração pode ser dominado pela sua vontade".

Referência:
Kimberley Whitehead et al. "Event-related potentials following contraction of respiratory muscles in pre-term and full-term infants". Clinical Neurophysiology. Volume 130, Issue 12, December 2019, Pages 2216-2221.

Sobre o Autor

Fernando Gomes é neurocirurgião e neurocientista, graduado em medicina pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Concluiu Residência Médica em neurologia e neurocirurgia no HC (Hospital das Clínicas) da FMUSP e possui título de especialista em neurocirurgia pela SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia). É pós-graduado em neurocirurgia pediátrica pela World Federation of Neurosurgical Societies, doutor em neurotraumatologia experimental pela FMUSP e professor livre-docente pela disciplina de neurocirurgia da FMUSP. Autor de 8 livros ligados à medicina e ao comportamento humano, consultor e apresentador do quadro “E agora, doutor?” do programa “Aqui na Band” da Rede Bandeirantes de Televisão.

Sobre o Blog

Com temas ligados a medicina e a neurociência, esse espaço é dedicado a viajar pelo cérebro humano e desvendar os mistérios da mente. Com explicações simples e embasadas cientificamente, por aqui é possível passear pela maior e mais poderosa máquina que mora dentro da cabeça de todos os seres humanos. E, ao desvendar os aspectos físicos e comportamentais das habilidades, emoções e necessidades do comportamento humano fica mais fácil aplicar técnicas e novos hábitos para que rotina seja leve, saudável e prazerosa e turbinada em todos os aspectos.

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