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Fernando Gomes

Como a neurociência explica a empatia? Saiba como ela é ativada no cérebro

Fernando Gomes

15/05/2020 04h00

Crédito: iStockEmpatia é definida como a capacidade de se colocar no lugar do outro, de perceber o estado ou a condição de outra pessoa e assim desenvolver a habilidade de sentir a mesma emoção. A neurociência tem evidenciado que a empatia é na verdade uma combinação de atos conscientes e inconscientes do cérebro que depende do bom funcionamento de certas regiões para florescer.

O laboratório de neurociência da Universidade do Colorado, em Boulder (EUA) já estudou em qual parte do cérebro essa empatia pode ser gerada e se ela acontece na mesma área em qualquer pessoa.

Depois de avaliar 66 cérebros voluntários por exames de ressonância magnética funcional enquanto ouviam histórias reais de finais tristes e felizes, os voluntários contaram as emoções pessoais que cada história os fez sentir. Assim, comprovaram que a empatia aparece em funções cerebrais bem diferentes, portanto trata-se de um processo distribuído que não se restringe a apenas uma área do cérebro.

A partir da empatia despertada pelas histórias, a conclusão foi que sentimentos como solidariedade e a compaixão são processadas em regiões cerebrais como o córtex pré-frontal ventromedial e o córtex medial órbito-frontal, relacionados aos processos com os quais o cérebro avalia algo importante como alimento ou dinheiro. Mas, quando a empatia é acompanhada por despertar mais angústia do que compaixão, ativam outras regiões do cérebro, como o córtex pré-motor nos lobos frontais e o córtex somatossensorial primário nos lobos parietais.

A semelhança nisso é que ambas são conhecidas por participar dos processos chamados de espelho. É o que chamamos de neurônio-espelho ou de ação-reação. Sabe aquela história de "diga-me com quem andas que te direi quem és ?" – é bem isso. Quando um indivíduo é colocado frente a uma situação de estresse, pode responder de maneira negativa e agressiva. Isso porque as células nervosas são primeiramente responsivas às ações motoras e ativadas quando se observa uma pessoa praticando alguma atividade seja ela para o bem ou para o mal, podem fazer uma pessoa imitar alguém ou recriar uma ação, dependendo do estimulo ao qual ela foi colocada.

Vivemos em sociedade e somos moldados a ela. Por isso que, além da imitação que fazemos o tempo todo quando frente ao outro, nossos neurônios também se encarregam de certos pensamentos e comportamentos, por exemplo, a empatia. Do ponto de vista da neurociência, a empatia pode ser construída e pode ativar o mesmo sistema neural de um ato de caridade. A ciência já demonstrou que há uma forte ligação entre a caridade e a saúde mental e comprovou que quem a pratica tem menor propensão à depressão, à ansiedade e também são mais esperançosas. Mas, esse é um tema para uma próxima conversa.

Neurodicas

Empatia pode ser aprendida:

  • Desde a infância: mostrar para uma criança que quando ela tira o brinquedo do amiguinho ou do irmão isso pode interromper uma ação que o outro está fazendo;
  • Ensine sempre alguém: ajudar um colega de trabalho em uma tarefa ajuda a estimular o circuito da empatia no cérebro, mesmo que os méritos possam ir diretamente só para o outro;
  • Julgue menos: deixar de lado os próprios valores, opiniões e emoções ajuda a ver o outro como ele realmente é e diminui a projeção que criamos segundo as nossas próprias perspectivas;
  • Silencie os seus pensamentos: tente imaginar a vida e os sentimentos de outras pessoas mesmo sem conversar com elas.
Referências:
Cruz, TSF. Os efeitos da psicopatia na relação entre socialização, empatia e moralidade: um estudo eletrofisiológico. Dissertação (Mestrado integrado em Psicologia), 2013, Universidade do Porto, Portugal.
Ferrari EAM et al. Plasticidade neural: relações com o comportamento e abordagens experimentais. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 17, n. 2, p. 187-194, Aug. 2001.

Sobre o Autor

Fernando Gomes é neurocirurgião e neurocientista, graduado em medicina pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Concluiu Residência Médica em neurologia e neurocirurgia no HC (Hospital das Clínicas) da FMUSP e possui título de especialista em neurocirurgia pela SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia). É pós-graduado em neurocirurgia pediátrica pela World Federation of Neurosurgical Societies, doutor em neurotraumatologia experimental pela FMUSP e professor livre-docente pela disciplina de neurocirurgia da FMUSP. Autor de 8 livros ligados à medicina e ao comportamento humano, consultor e apresentador do quadro “E agora, doutor?” do programa “Aqui na Band” da Rede Bandeirantes de Televisão.

Sobre o Blog

Com temas ligados a medicina e a neurociência, esse espaço é dedicado a viajar pelo cérebro humano e desvendar os mistérios da mente. Com explicações simples e embasadas cientificamente, por aqui é possível passear pela maior e mais poderosa máquina que mora dentro da cabeça de todos os seres humanos. E, ao desvendar os aspectos físicos e comportamentais das habilidades, emoções e necessidades do comportamento humano fica mais fácil aplicar técnicas e novos hábitos para que rotina seja leve, saudável e prazerosa e turbinada em todos os aspectos.

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