Em excesso, a atividade física pode prejudicar o cérebro
Praticar atividade física faz muito bem para o corpo e para a mente –isso é fato — mas, quando o atleta erra a mão e comete excessos, quem sofre são os músculos, ossos, tendões e … o cérebro!
Isso está provado por cientistas franceses do Hôpital de la Pitié-Salpêtrière que conduziram uma pesquisa com 38 atletas de alto rendimento e comprovaram, por meio de questionários e exames de imagem, que aqueles que se exercitaram em excesso sofreram alterações na porção lateral do córtex pré-frontal, região do cérebro que controla o sistema cognitivo, e estiveram muito próximos de um burnout.
Para quem não sabe, o burnout é uma fadiga mental extrema, que causa apagões, cansaço e dificuldades cognitivas. Uma das principais consequências é a impulsividade e as más escolhas nas tomadas de decisões. No caso do estudo, os atletas foram convidados a decidir sobre investimentos financeiros e o resultado foi péssimo para os que estavam exaustos depois do excesso de esforço físico.
E atenção: 40% a mais de atividade física já causa 4 vezes mais cansaço mental. Mas, tem como prevenir isso? Sim, primeiro, não treine mais do que a periodização prescrita para você. É perigoso, pode causar lesões e não vale a pena. Depois, respeite seu corpo e permita-se descansar. O descanso é parte do treino já que é por meio dele que o organismo se recupera e se prepara para alcançar seus objetivos.
A descoberta evidencia a relação direta entre o esforço corporal e o cognitivo, e vai ao encontro da conexão entre o corpo e mente. Para se ter o melhor controle cognitivo possível é necessário manter o cérebro saudável e livre de sobrecargas para que a mente fique turbinada.
Não se esqueça nunca que também é possível –e necessário — exercitar o cérebro, mas como ele não é um músculo, a malhação ali acontece com o que demanda alta concentração como em atividades cujos treinos aprimoram a memória e o pensamento estratégico, por exemplo resolver palavras cruzadas, jogar xadrez ou ler. Por isso que os treinamentos físicos são de extrema importância para o bom funcionamento cerebral, e eu repito: apenas o overtraining –aquele treino em excesso pode causar esgotamento e fadigar o sistema cerebral de controle cognitivo.
E, de fato, todo mundo precisa desse controle para evitar qualquer comportamento impulsivo, incluindo o aviso que você precisa ouvir internamente para interromper o esforço físico quando sente dor ou quando prejudica alguma parte do corpo pelo treinamento intenso.
Neurodica
Continue treinando, mas sempre com equilíbrio e moderação para que você passe longe da linha tênue que fica entre o saudável e o prejudicial.
Saiba mais
Blain B, Schmit C, Aubry A, Hausswirth C, Le Meur Y, Pessiglione M. Neuro-computational Impact of Physical Training Overload on Economic Decision-Making. Curr Biol. 2019 Oct 7;29(19):3289-3297.