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Fernando Gomes

Ficar muito tempo no mundo online prejudica funções cerebrais e sociais

Fernando Gomes

05/07/2019 04h00

Crédito: iStock

O surgimento da internet e sua difusão global trouxeram muitos benefícios para a sociedade. Nunca tivemos tanto acesso às informações, os limites geográficos foram ultrapassados (pode-se visitar uma cidade do outro lado do mundo com poucos cliques), a comunicação ajudou a conectar pessoas que antes não se conheceriam, além de dar voz a todos. Só que essas características vantajosas podem se tornar prejudiciais, dependendo da forma como usamos o universo virtual.

A sociabilidade, por exemplo, é a que mais vemos se esvair. Sempre observo casais e grupos de amigos em bares e restaurantes que, em vez de estarem ali, aproveitando o momento e a companhia, não tiram os olhos dos celulares, interagindo apenas com o mundo online.

Agora, um grupo de pesquisadores da área da saúde da Austrália, Reino Unido, Bélgica e Estados Unidos analisou diversos trabalhos científicos e constatou evidências que passar mais tempo no mundo virtual do que no real pode prejudicar o cérebro, reduzindo a quantidade de massa cinzenta e das conexões entre os neurônios. A função cognitiva é a mais afetada. Há danos na memória, na concentração e, olhem só: também na sociabilidade.

Paradoxalmente, apesar de todos os benefícios da internet, ela se tornou viciante para alguns e, mesmo para os usuários multitarefas, que dividem seu tempo entre o on e o off-line, sem equilíbrio, há grandes perdas.

As evidências científicas disponíveis indicam fortemente que o envolvimento digital multitarefa (prestar atenção e interagir com redes sociais, e-mails, mensagens, internet e sites ao mesmo tempo) NÃO melhora a performance multitarefa no mundo físico. E na realidade, a capacidade cognitiva parece diminuir porque o cérebro fica treinado a não ignorar pequenas distrações que apareçam. Por exemplo, um sinal de alerta do celular, um ruído do ambiente, a campainha do vizinho, roubam constantemente a atenção com mais relevância que deveriam e com isso, a capacidade de concentração em uma tarefa específica torna-se comprometida.

Não estou pregando o fim do mundo virtual. Longe disso! Essa ferramenta é importante para todos, mas creio que precisamos viver e priorizar mais o mundo real, o aqui e agora para podermos ter uma vida realmente plena, com boas histórias a serem lembradas, curtidas e compartilhadas com pessoas de verdade que participam da nossa trajetória. Desconectar-se um pouco pode fazer a diferença na saúde mental e emocional.

Abaixo apresento algumas neurodicas para você. Experimente:

  1. Reduza o número de vezes que você checa informações e atualizações no celular (há pessoas que checam em intervalos até mesmo menores que de 10 em 10 minutos);
  2. Escolha um dia da semana para não acessar as redes sociais (sábado ou domingo são ótimas sugestões);
  3. Destine mais tempo para atividades ao ar livre, contato com a natureza, atividades que valorizem o olfato e uma boa conversa presencial por semana com seus amigos.
Referência:
Firth J et al. The "online brain": how the Internet may be changing our cognition. World Psychiatry. 2019 Jun;18(2):119-129.

Sobre o Autor

Fernando Gomes é neurocirurgião e neurocientista, graduado em medicina pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Concluiu Residência Médica em neurologia e neurocirurgia no HC (Hospital das Clínicas) da FMUSP e possui título de especialista em neurocirurgia pela SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia). É pós-graduado em neurocirurgia pediátrica pela World Federation of Neurosurgical Societies, doutor em neurotraumatologia experimental pela FMUSP e professor livre-docente pela disciplina de neurocirurgia da FMUSP. Autor de 8 livros ligados à medicina e ao comportamento humano, consultor e apresentador do quadro “E agora, doutor?” do programa “Aqui na Band” da Rede Bandeirantes de Televisão.

Sobre o Blog

Com temas ligados a medicina e a neurociência, esse espaço é dedicado a viajar pelo cérebro humano e desvendar os mistérios da mente. Com explicações simples e embasadas cientificamente, por aqui é possível passear pela maior e mais poderosa máquina que mora dentro da cabeça de todos os seres humanos. E, ao desvendar os aspectos físicos e comportamentais das habilidades, emoções e necessidades do comportamento humano fica mais fácil aplicar técnicas e novos hábitos para que rotina seja leve, saudável e prazerosa e turbinada em todos os aspectos.

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